"Assim como é de cedo que se torce o pepino, também é trabalhando a criança que se consegue boa safra de adultos"
terça-feira, 8 de maio de 2012
"– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é,
começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é
abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e
acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste
mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um
dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e
cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última
vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que
morre, vira hipótese. É ou não é?"
"A natureza só permite aos gênios uma filha: sua obra.
Um governo deve sair do povo como a fumaça de uma fogueira.
Um país se faz com homens e livros.
Erro pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião.
A consciência do homem comum mora no bolso, eis tudo.
Um só campo existe aberto, hoje, para as obras esculturais de algum vulto: o cemitério.
Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.
Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser.
Acho a criatura humana muito mais interessante no período infantil do que depois de idiotamente tornar-se adulta.
Nunca no mundo uma bala matou uma idéia.
Fui mexer na minha tremenda papelada epistolar e tonteei. É coisa demais. É um mundo.
Para a treva só há um remédio, a luz.
Os nomes que vimos pela primeira vez como tradutores perdem o prestígio, quando os vemos como autores. Há em nós a vaga impressão de que quem traduz não pode criar.
Meu cavalo está cansado e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula ou ponto final."
Um governo deve sair do povo como a fumaça de uma fogueira.
Um país se faz com homens e livros.
Erro pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião.
A consciência do homem comum mora no bolso, eis tudo.
Um só campo existe aberto, hoje, para as obras esculturais de algum vulto: o cemitério.
Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.
Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser.
Acho a criatura humana muito mais interessante no período infantil do que depois de idiotamente tornar-se adulta.
Nunca no mundo uma bala matou uma idéia.
Fui mexer na minha tremenda papelada epistolar e tonteei. É coisa demais. É um mundo.
Para a treva só há um remédio, a luz.
Os nomes que vimos pela primeira vez como tradutores perdem o prestígio, quando os vemos como autores. Há em nós a vaga impressão de que quem traduz não pode criar.
Meu cavalo está cansado e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula ou ponto final."
Erro Tipográfico
"A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão
os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas, assim que
o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a
língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda
não conseguiu decifrar."
Animais e a Peste
Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.
- Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.
- Qual? – perguntou o leão.
- O mais carregado de crimes.
O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:
- Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o acrifício necessário ao bem comum.
A raposa adiantou-se e disse:
- Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.
Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.
Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.
E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.
Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:
- A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.
Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:
- Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.
Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimamente eleito para o sacrifício.
Moral da Estória:
Aos poderosos, tudo se desculpa…
Aos miseráveis, nada se perdoa.
- Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.
- Qual? – perguntou o leão.
- O mais carregado de crimes.
O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:
- Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o acrifício necessário ao bem comum.
A raposa adiantou-se e disse:
- Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.
Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.
Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.
E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.
Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:
- A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.
Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:
- Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.
Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimamente eleito para o sacrifício.
Moral da Estória:
Aos poderosos, tudo se desculpa…
Aos miseráveis, nada se perdoa.
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